Capítulo 2
A Dama de Vermelho
Fui ate o banheiro, passei a mão sob o sensor e a água começou a fluir, olhei para o espelho, me encarei, quando a água parou de fluir, uma lembrança surgiu.
Minha mãe estava atrasada, meu pai já tinha ido para o trabalho, ela olhou para o relógio no pulso.
– Droga...! – disse pegando sua bolsa. – Andrew, rápido...!
Ela pegou em minha mão e me guiou para fora, abriu a porta do sedan preto, entrei e me sentei no banco de trás. Ela dirigiu ate a esquina, desceu do carro rapidamente e abriu a porta para mim.
– Querido, hoje a mamãe não vai poder te levar de carro. Hoje você vai pegar o ônibus... certo?
– Certo...
Ela me deixou junto com um grupo de crianças que também esperavam o ônibus, havia alguns adultos se assegurando que os filhos entrassem no ônibus.
O sinal tocou, fui direto para a sala de aula, era aula de ciências, todos estavam em duplas, eu era o único se parceiro. Quinze minutos depois da aula ter começado, a porta se abriu.
– Desculpe o atraso... – ela disse entrando na sala de aula, a menina que mexeu comigo.
– A diretora já me avisou... – disse o professor entendendo. – Por favor, sente-se com Andrew...
Meu coração começou a bater mais rápido de novo e aquilo estava me fazendo perder a concentração e eu não podia deixar aquilo acontecer, ela já estava próxima quando me levantei pegando minha mochila e disse já me retirando:
– Desculpe professor, não estou me sentindo bem, vou na enfermaria...
Quando passei por ela, senti ela se virando e olhando minhas costas confusa com o que acabara de acontecer, quando o professor abriu a boca para dizer algo, já estava longe. Fui ate a quadra de esportes e me sentei na arquibancada, apenas esperando o tempo passar quando senti uma presença do lado de fora da quadra, agi naturalmente, a porta se abriu, não olhei para o lado, mas sabia que era ela, me levantei e comecei a andar no lado oposto, foi quando ela disse:
– Espere...!
Parei de andar, suspirei fundo e assumi o controle novamente, me vire e a olhei indiferente.
– Oi, meu nome é Sabrina... Sabrina Tavares.
– Andrew Castelli... – nos olhamos, ela parecia tentar me decifrar. – Preciso ir...
– Não, não precisa... a próxima aula é aqui nesta quadra...
Não entendia isso, era pior do que tortura, perto dela, tinha que me concentrar ao máximo para manter a calma. A desculpa de ir na enfermaria já não funcionaria, não tive escolha a não ser se sentar na arquibancada e esperar, ela se sentou próxima, pegou o celular holográfico e começou a mexer. Ficamos lá parados sem conversar, o tempo parecia que não passava, os próximos 20 minutos foram os mais longos de minha vida. Finalmente o sinal tocou, minutos depois os alunos começaram a surgir, ela se levantou e perguntou:
– Você não vai se trocar?
– Por quê?
Ela mostrou por um instante estar confusa.
– É Educação Física...
– Certo... – disse me levantando.
Fui ate o vestiário, vesti a roupa de exercícios, shorts e camisa regata da escola. Fomos separados em dois times, iriamos jogar um queimada. Sabrina e eu ficou no mesmo time, as boas vermelhas começaram a ser lançadas em nós. Eram tão lentas, pareciam estar em câmera lenta, me desviei de todas sem sair do lugar, um a um foram sendo eliminados os membros do meu time, só restando ela e eu, ela se aproximou de mim em alerta e disse:
– Estamos ferrados...!
– Por quê? – perguntei.
– Só sobraram nós dois...
Alguém do outro time lançou uma bola, iria acertar em cheio o rosto dela, ela nem viu a hora em que movimentei minha mão e coloquei entre o rosto dela e a bola, ela estava ofegante.
– Acho que entendi como se joga...
Com a mão ainda na frente do rosto dela segurando a bola, apenas fiz um leve movimento como se estivesse soltando a bola. Ela foi em alta velocidade e força contra o rapaz que a lançou antes o eliminando. Eliminei todos, quando terminei disse a ela:
– Foi divertido...
Me retirei, tomei uma ducha e fui para a próxima aula. Tive ainda mais algumas aulas, quando deu 3 horas, o sinal tocou, finalmente era hora de ir embora. Peguei minha mochila e me retirei, já estava no lado de fora da escola quando avistei o motorista, entrei no carro. Dirigiu ate as proximidades do subúrbio, a limusine estava a minha espera logo em frente. Desci do carro e caminhei em direção a limusine, quando uma van preta parou bruscamente e homens mascarados de antigos presidentes saíram armados me capturaram, colocaram um saco preto em minha cabeça, me amarraram e me levaram. Quando retiraram o saco, estava em um barracão meio sombrio, sentado em uma cadeira com as mãos e os pés amarrados. Olhei em volta, 3 no lado direito e mais 4 acima, 5 no lado esquerdo e mais 3 acima, 4 atrás de mim e 3 na minha frente, todos usavam as máscaras. O que usava a máscara de George Washington estava bem a minha frente e parecia ser o líder.
– De olho nele... – disse George Washington. – Vou trazer Almira...
Ele se retirou, enquanto alguns me observava outros foram jogar cartas. Senti uma presença perigosa me observando em algum lugar no barracão. O local era obscuro, janelas de igrejas antigas, provavelmente com algum dispositivo que restringi qualquer sistema de localização. A ajuda não estava a caminho, estava por conta própria, matar todos levaria um pouco mais de 3 minutos, mas primeiro, queria ver quem era esta tal de Almira, uma lembrança surgiu em minha cabeça, fechei os olhos.
O ônibus estacionou, entrei e me sentei na janela. Enquanto passávamos ao lado de uma montanha, algo me chamou a atenção, nuvens de chuvas repletas de raios surgiu acima de nós, o que era estranho, pois o sol brilhava intensamente quando minha mãe me deixou no ponto. O ônibus começou a perder velocidade.
– O que esta havendo? – ouvi o motorista dizer.
O painel desligou, o ônibus parou no meio da rua, não estava vindo nenhum carro dos dois lados, estávamos parados a quilômetros de distância de qualquer lugar. Olhei pela janela novamente, vi algo cintilante entre as nuvens, algo de metal surgiu das nuvens, era enorme, uma nave. Senti meu corpo mais leve, objetos pequenos soltos pelo ônibus estavam flutuando, o ônibus balançou, olhei para o chão pela janela, vi o asfalto se afastando, olhei para os lados, estávamos apavorados, estávamos sendo sugados junto com o ônibus para a nave.
Escutei som de saltos altos no chão se aproximando, abri os olhos, e vi algo incomum, uma mulher de roupa de couro vermelho, salto alto vermelho, um chapéu de sol de couro vermelho com uma pena de pavão, lábios cobertos por um batom vermelho, cabelos pretos meio ondulados ate o ombro, era uma dama de vemelho. Almira era uma mulher bem peculiar, alguém que já estava nas casas dos 30 sem medo de ter gostos estranhos. Ela se aproximou de mim, seu olhar tinha um certo tom de sarcasmo, o típico olhar de alguém que se acha estar no controle.
– Seu olhar... – disse a olhando nos olhos.
– O que tem o meu olhar? – ela perguntou se inclinando, ficando face a face comigo.
– É irritante... – respondi.
Ela sorriu, o que também era irritante.
– E o seu olhar... – ela se afastou. – É sem humanidade...
– Eu sei...
– Diga-me, o que Suzeli esta tramando?
– Pergunte a ela... – respondi indiferente.
– Estou me perguntando... – ela disse dando passos de um lado para o outro. – Você é realmente um humano?
Ela parou de andar e ficou de frente para mim e sorriu, ela estendeu a palma da mão esperando algo de George Washington, ele lhe entregou uma faca de lâmina preta, uma faca de mercenário.
– Vamos descobrir... – disse se aproximando com a faca.
Ela se inclinou, olhando em meus olhos, passou a faca sob o lado esquerdo de meu rosto o cortando desde da proximidade do olho ate a boca tingindo a parte cortante da lâmina de vermelho, sangue escorria sob meu rosto. Meus olhos não lacrimejaram, não pisquei e nem demonstrei sentir dor e medo algum.
– Você sangra como um humano, mas não age como um... – ela disse próximo ao meu rosto com a lâmina da faca sobre o meu rosto, próximo a minha boca. – O que eles fizeram com você?
Fechei meus olhos por um segundo, a olhei nos olhos e disse:
– Eles me tornaram uma maquina humana de matar...
Virei meu rosto e mordi a lâmina da faca e puxei a soltando da mão dela, virei meu rosto para ela e lhe dei uma cabeçada a jogando de costas no chão, lancei a faca para cima, todos já estavam prontos para atirarem em mim, com a mão amarrada para trás, peguei a faca e com um único golpe, cortei a corda, cortei rapidamente a corda dos pés e já me inclinei, peguei a cadeira e a lancei em George Washington com uma cambalhota para frente, a cadeira se quebrou o jogando contra o chão. Todos começaram a atirar, me levantei e desapareci da vista de todos, surgi atrás dos outros dois que antes de tudo estavam diante de mim junto com Almira e George Washington. As mascaras dos dois se despedaçaram revelando seus rostos cheios de cortes de lâmina e sangue escorrendo, suas roupas se tingiram de vermelho, havia cortado os dois com a faca em alta velocidade, seus corpos sem vida atingiram o chão. Segurei a ponta da faca e lancei em um dos homens que estavam próximos as janelas, a faca atingiu a máscara a atravessando e perfurando a testa dele, seu corpo caiu a mais de 3 metros no chão já morto. Os outros não paravam de atirar, sumi da vista de todos, reapareci diante daquele que eu havia acabado de matar, peguei a faca e a arma dele, coloquei a faca entre os dentes, com a Pistola-Metralhadora MP5 de 9 mm em mãos, pulei sob a parede e comecei a correr sob ela, se aproximando da plataforma de ferro, me impulsionei, era como se eu pudesse voar, meu corpo ereto, deu uma meia volta de 180º graus me permitindo ficar acima dos outros três mascarados restantes daquela plataforma, em pleno ar disparei a arma sem hesitar matando os três, cai em pé sob o apoio, sem parar, com um único pé, virei meu corpo disparando a arma na outra plataforma matando os três, pulei para o alto indo para o centro do barracão e disparei nos outros 5 que estavam no chão, virei meu corpo e disparei nos outros 3 do outro lado, agora só faltavam os 4 que estavam atrás de mim quando eu ainda estava sentado e amarrado, a metralhadora já estava sem munição. Ao cair em pé sob o chão, já sumi da vista deles, ao mesmo tempo já lancei a metralhadora em um deles e a faca em outro, um deles caiu morto no chão com a faca em seu pescoço, o outro foi atingido no rosto pela metralhadora perdendo a consciência. O que sobrou em pé só viu o meu vulto passando por ele, ficando atrás dele, coloquei as mãos em sua cabeça e quebrei seu pescoço. Me agachei e peguei a faca no pescoço do outro e fui ate onde Almira deveria estar, ela e George Washington haviam fugido, o que foi atingido pela metralhadora recuperou a consciência, me virei, o olhei friamente, ele tentou implorar pela vida, mas já era tarde, a faca perfurou sua testa.
– Sumiu... – disse ao perceber que quem estava me observando de longe desapareceu no momento em que matei o último mascarado.
Andei para fora do barracão.
– Preciso de uma equipe de limpeza...
Uso lentes de contato que transmite tudo o que eu vejo, meu condicionamento físico, minha localização e também é um comunicador. Fui para casa, tomei banho, disse o que aconteceu para Suzeli em uma videoconferência holográfica, jantei e fui me deitar. Posso ter nascido humano, mas me tornei um monstro frio e calculista sem remorso, sem respeito algum pela vida, com um único propósito: Matar sem hesitar. Foi assim que eles me criaram, nos criaram. Fomos criados para se tornar suas armas contra nossa própria espécie.
Continua...
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